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Artigo: 28 de julho, aniversário de 74 anos da morte de Lampião

domingo, 29 de julho de 2012

/ Edivan Gonçalves


Grota do Angico, local onde morreram Lampião,
 Maria Bonita e  outros  nove cangaceiros.

Virgulino Ferreira da Silva, nasceu no dia 04 de junho de 1898 no município de Vila Bela, atual Serra Talhada em Pernambuco. Na infância e juventude foi um trabalhador sertanejo como qualquer outro. Porém, depois de uma série de querelas com vizinhos, que culminou na morte de seu pai, José Ferreira, homem pacato e avesso à violência, veio a ingressar no cangaço e se tornar o maior ícone do banditismo no Sertão Nordestino. Ficou para sempre conhecido como “Lampião” o “Rei do cangaço”. Lampião, por quase vinte anos, percorreu o Nordeste brasileiro, com exceção dos estados do Piauí e Maranhão, cometendo roubos, saques, assassinatos, sequestros e outros crimes. Foi emboscado e morto, juntamente com sua companheira e mais nove comparsas na grota do Angico, na margem direita do rio São Francisco no município de Poço Redondo em Sergipe. 
O ataque ao amanhecer do dia 28 de julho de 1938, foi comandado pelo Tenente João Bezerra da Silva, da Policia Militar de Alagoas. Era o fim da saga do mais conhecido bandoleiro do Brasil. Herói para uns, bandido sanguinário para outros, o certo é que, Lampião se tornou um mito e um símbolo da cultura nordestina. Muito se escreveu e se escreve até os dias atuais sobre o famoso cangaceiro, mas, o que é pouco divulgado nos livros acerca do assunto, são os episódios das passagens de Lampião pelo nosso município entre os anos de 1929 a 1933, estes trechos da história de Virgulino são muito bem relatados, pelo saudoso advogado, professor, cronista e ex-delegado de polícia, Jorge de Souza Duarte (1923-2001) em seu livro Lampião no Município de Juazeiro. Juazeiro: Gráfica Gutenberg, 1997, 103 páginas, o qual escreve como testemunha ocular da invasão do rei do cangaço à Fazenda Umbuzeiro, de propriedade de seus avós maternos. Lampião adentrou pela primeira vez em terras juazeirenses no dia 06 de janeiro de 1929, no povoado de Abóbora, onde travou um intenso tiroteio contra uma volante da Policia Baiana, comandada pelo Tenente Odonel Francisco da Silva. Neste combate morreram dois soldados e o cangaceiro “Mergulhão”. A estada do “Rei do Cangaço” no Município de Juazeiro é narrada com mais riqueza de detalhes durante sua segunda passagem pela fazenda dos avós do autor, onde este se encontrava presente na ocasião e testemunhou os fatos que passo a discorrer. Numa manhã ensolarada no ano de 1933, o escritor, então com 10 anos de idade, passava alguns dias com os pais na Fazenda Umbuzeiro, próximo ao povoado de Lagoa do Boi, município de Juazeiro/BA, quando viu a chegada de Lampião e sua hoste. Era a segunda vez que o cangaceiro “visitava” a propriedade de seus avós. Virgulino chegava com cerca de trinta e dois comparsas, sujos, famintos e malcheirosos em busca de jóias e comida. Após saquear todos os pertences de valor existentes na casa, exigiu que servisse comida para seu bando. Era um ano de muita fartura na região. Os cangaceiros foram bem servidos e se alimentaram com muita carne de bode e de carneiro, rapadura, queijo, leite e coalhada. Durante a ocupação dos cangaceiros, estava também presente um irmão do autor, que tinha menos de três anos, José Nunes de Souza Duarte (1930-1998), apelidado de “Dedé” (pai do Policial civil de Juazeiro, José Andrade Duarte, conhecido por “Zezinho”), que ao ver a casa cheia de pessoas estranhas, começou a chorar incessantemente, irritando um dos bandidos que se queixou ao chefe, reclamando do barulho. Então, Lampião determinou que ele colocasse o menino numa rede e balançasse até o garoto dormir, assim não haveria mais incômodo. O jagunço é claro, obedeceu. Após serem servidos à vontade e estarem satisfeitos, seu chefe que era um homem de atitudes contraditórias, procurou saber da proprietária da fazenda, quanto tinha custado toda a alimentação consumida por seu bando. Ela informou que em sua casa não cobrava por comida. O cangaceiro, porém, insistiu, e novamente ouviu a recusa em receber o dinheiro. Então, Lampião retirou de seu bornal, uma cédula de quinhentos mil réis e deixou sobre a mesa como forma de pagamento, antes de partirem em três cavalos “emprestados”, os quais, prometeu posteriormente devolver, mas nunca o fez, disse que quando um dia retornasse, iria exigir a quantia de três contos de réis, quantia significativa na época. Em 1953, quinze anos após a morte de Lampião, faleceu a Sra. Maria Lino de Souza, avó do autor, a qual o rei dos cangaceiros havia incumbido de juntar a quantia de três contos de réis. Maria Nunes Duarte, mãe do escritor, ao revirar pertences de sua falecida genitora, encontrou numa caixa de madeira, em cédulas, já sem qualquer valor legal, a quantia solicitada por Virgulino. Ela havia economizado e guardado o montante solicitado, pois não acreditava nas inúmeras notícias sobre a morte do famoso bandido. O episódio da passagem de Lampião pelo município de Juazeiro, nos mostra que a história não é feita de mocinhos e bandidos, mas sim de gente de carne e osso e escrita por pessoas, sujeitas a acertos, erros, exageros, verdades e inverdades, e um personagem que é herói para uns, pode ser perfeitamente bandido para outros, depende do ponto de vista de cada um. 

“... Se história fosse escrita pelos hunos, os bárbaros, seguramente, seriam os romanos”. Jorge de Souza Duarte. 

Clairton Ribeiro - Acadêmico de História da Universidade de Pernambuco – Campus Petrolina-PE. 

Fonte: Blog do Geraldo José/Blog Diniz K-9

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